Medo de amar, se pudesse
Ninguém se entregaria a ele
Maltrata,machuca,desvanece
Melhor é não conhecê-lo
.
No meu dicionário
Não existe o verbo amar
Um rato revolucionário
Comeu a página no jantar
.
Passo a vida a versejar
conhecendo bons amigos
Brinco com o tempo a passar
assim não corro perigo
.
Sou feliz por instantes
Sinto tristezas e alegrias..
Vou vivendo é o bastante
Neste mundo de alegorias.
.
NOTA: A Sue Nery é educadora e sensível poetisa que muito tem dado cor às belezas da Bahia.
Um comentário:
"No meu dicionário
Não existe o verbo amar
Um rato revolucionário
Comeu a página no jantar".
Cazuza um dia disse: "a sua piscina está cheia de ratos". Mas não é essa a única tangência entre os versos dele e os de Sue Nery. Há nos versos dela uma vertente dramática rasgada, qual o samurai com sua espada. Lampejos como esses em que uma ironia finíssima como as fibras da seda costuram ratos entre arbustos floridos, entre amores doídos permitem ao leitor saborear em goles sôfregos idéias impossíveis. Ela vai longe. Tão longe quanto as palavras podem levar.
Paula Dórica
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